quarta-feira, 5 de junho de 2013

''Aquilo que tiver de ser meu, às mãos me há de vir parar"

No balcão do correio
finalizo o embrulho
dentro dele,  
alguns  velhos apontamentos e  fotos
as lembranças ganham vida

um  rubor, um olhar
de passagem

o grito de profunda alegria
-vamos lá e com as mãos dadas nos jogamos
ao vazio infinito da  queda livre
e o céu nos  revelou  caminhos tão diferentes.

Uma paixão passada,
como a parede de velhos azulejos
alguns guardam o brilho do olhar
outros mostram as rugas desnecessárias
mas todos com seu  pequeno tempo das lembranças
...e um sorriso  tentador 

Lacrei com a fita transparente o pacote
ao entregá-lo, recebi um olhar 
e de volta, meu sorriso

quanto tempo...

depois de muitos anos
um rosto estranhamente presente
um vaso de vidro, cilíndrico feito para  o vazio
por quê?

a sua infelicidade sempre sentada às beiras dos lagos
eu  deixava pequenos bilhetinhos
- quanta coisa para gritar, vomitar, para reagir
e a sua dor continua presa, infatigável.

você que sempre chorava com lágrimas presas
nunca as secava, elas não existiam
somente a dor que se propagava para as indignações íntimas
e eu somente era a vida e  sol
ria, vivia  
a tudo entregava parte do meu olhar
a tudo pertencia

Sua pergunta..
nunca sofre?
não sabia responder
ou como respondê-la
se só havia o humano, um amor
e  embates internos
verdadeiros e intensos.
queria descobrir se no frasco de perfume
existia um pouco das tentações do  seu perfumista
e eu brincava de viver

E você que sempre a prática continha
mergulhava em deslizamentos
para se grudar às pedras
e ressurgir do outro lado da natureza
com alma telúrica
precisava do convívio
das marés solitárias e intensas
sua vida, febrículas
vivia-em-seu-não-ser
somente uma abstração temporal
mas..sempre na praia
o seu mundo fixo

eu...buscava o outro
buscava trazer o Deus de verdade para cá
nas brincadeiras das crianças
me  enchia de lama 
corria atrás das borboletas
conhecia os outros pelos olhares das paixões vivas
de você ?

bastava-lhe a mesmice, ser tal e qual
e assim gritava
por que tão diferente, por que tanta procura
bastava deixar -se 

mas a minha vida
precisava do movimento
das vigias intensas aos meus olhares
como barcos nas  grandes tempestades
assim fortalecia o meu interior

eu e a minha passividade
largada e sem as vitórias
nas  despedidas e meus  velhos movimentos repetitivos
como se eles pudessem embalar a minha solidão

de você o sorriso acolhedor
um mundo ambíguo, mas ímpar
valente, pulsante e vivo
como lençóis brancos 
que nos cobrem lentamente após as grandes febres

de repente 
uma sombrinha rasgada dentro de mim
que ao girá-la, tornava -se um grotesco adeus ao mundo
acenava ao seu coração 
que ria das minhas passarelas 
cheias de prostitutas vestidas de nanotubos 
os perturbados e bêbados
com capas de chuva sinalizadas 
ah! que pena, 
deixei ao universo
minhas sensações vazias
tão cheias  de deslumbramentos
me perguntou algumas vezes
somente angústia?
hoje, desenho meus sentimentos
nas velhas toalhas de crochê
que engomadas tomam-se  de outras verdades

e eu que nas minhas  idas e vindas
ia me construindo para a felicidade,
e tão somente para ela
Vazio?
Não, pura verdade
sinto a  crueldade
existente  na felicidade
construída e assimilada
decidida sem padecimentos.
















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